Foi assim que me dei conta que bates! Devagar, como o som do piano, num ritmo lento, cheio de sentido, como se cada tecla fosse um desejo, como se cada desejo fosse concedido...
Sei que ás vezes me esqueço que bates: acordo, respiro, trabalho, falo e rio. Outras tomo consciência de que existes, como o som do piano. A amplitude do dia a dia não te enquadra, já te dominou e faz-te permanecer quase sempre esquecido... Mas vem Mozart e o teu sorriso, vem Chopin e aquele arrepio, vem Bach e páras por um bocadinho, como o piano, bem de mansinho.
Tomo consciência de ti sempre que me obrigo a lembrar-te, bates agora, bates um bocadinho, tens saudade, tens vontade, embalas os desejos e ris.
Eine Kleine Nachtmusik,
Fur Elise,
Moonlight Sonata,
Prelude in C major...
sonha agora devagarinho!
Outras vezes doís, partes, ninguém te cola os pedacinhos, caís outra vez, doís mais um bocadinho, o mundo acaba e tu sempre a bater sozinho. Queres ser grande, leal, confiante e confiável, abrigar toda a gente, dar mais, dar muito, dar-te inteiro e bates bates. Quando te ouço sei que sentes, como o sentes, ouço as teclas do piano devagar devagarinho.
Não, não estás sozinho.