domingo, novembro 16

Domingo à tarde


Dormi mal esta noite, por dormir mal, acordei menos bem e por acordar menos bem tive um dia menos bom.

Passo muitas horas sozinha e nestes dias, os pensamentos que geralmente me acompanham ganham peso, já não voam, marcam o passo e fazem-se ouvir como num sótão de chão de madeira, igual ao da casa da minha avó, aquela madeira antiga, que range... Pé ante pé, um pensamento e depois o outro a ranger cá dentro, um nó na garganta e a lengalenga:

- Vais cair, vais perder, vai doer... vais cair...

Penso na inutilidade do monólogo, as horas que passo comigo hoje dão-me náusea. Quando já pensaste em tudo mil vezes e nada mudou , o que te resta? Venho aqui e disserto, ponho a nu as opiniões que acho que tenho porque já pensei tanto nelas que, me parece, deixaram de fazer sentido. Tenho de mudar isto, deixar de ser aquilo, compreender, assimilar, aprender, dar, dar muito, dar mais, dar tudo. Terapia, partilha, expor o que posso expor do tudo que tenho cá dentro. O que mudaste hoje? Tudo igual a ontem. Um nó na garganta.
- Vais cair, vais perder, vai doer... vais cair...

Somos todos criaturas de hábitos, eu tenho alguns. Um deles era chegar a casa dela e enquanto abria a porta chamava-a. Oh vóoo! e ela respondia de onde estivesse UuuH! Sempre que ponho a mão na porta tenho de sufocar o chamamento, quando a porta se abre sei que não vou mais ouvir resposta. Hoje raramente lá vou. Um nó na garganta.
- Vais cair, vais perder, vai doer... vais cair...
Finalmente. O nó na garganta e os olhos que chovem.
Tu que me lês, o que Sentes? Levas-me contigo mal fechas esta pagina?
Eu sei, não te preocupes, não faz sentido.

Leste-me? Então ouviste-me.

Esquece-me.
Esquece-me agora porque foi só enquanto me leste que mais precisei de ti.

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